25 de jun. de 2009

Cannes: o festival e a crise - por Dan Zecchinelli

No maior e mais importante festival de comunicação do mundo, o assunto é um só: crise. Para começar, na queda do volume de delegados inscritos: foram 40% a menos que no ano passado, quando o número chegou a quase 10.000. Outro resultado: queda no número de inscrições. E segundo o critério do presidente dos júris de Press e Film, David Lubars, queda também no número de leões. Poucos, bem poucos. E um shortlist bem magro. Mas isso vocês já devem estar acompanhando pelo Meio e Mensagem, Propaganda e Marketing, CCSP e Blog do Adonis. Então, com o que posso contribuir para o Reunião do Clube? Com algumas percepções bem pessoais, e também por conversas com gente daqui.

Press: todo mundo ficou muito insatisfeito. E quando digo todo mundo, é todo O mundo. Porque como um presidente do júri diz que veio para separar o brilhante do lixo, escolhe um grand prix como esse? Ninguém entendeu nada. O favorito de todos, a campanha de Alka Seltzer da CLM BBDO de Paris, levou "só" ouro. Outro aprendizado: a fórmula cama-de-layout-lindo-com-titulo-bacana, se já está desgastada no anuário do CCSP, aqui ainda mais. Não rolou nada pra isso. O que o pessoal busca é ideia, ideia, ideia. As vezes a ideia vem num formato lindo de morrer, as vezes nao. Mas se nao tem ideia, nao rola (ainda que seja fraca, como no caso do GP mesmo)

Outdoor e media: aqui o buraco ficou BEM mais embaixo. Apesar do juri ter escolhido um shortlist extenso, beirando as 500 peças, o grand prix foi elogiado por todo mundo. Ainda mais quando vem junto com uma abordagem social e política. No discurso antes de revelar o vencedor, o presidente do júri disse que o critério foi escolher uma peça que não só fosse brilhante no presente, mas também tivesse em vista um futuro melhor para o planeta. Outra peça que chamou muita atenção e foi muito aplaudida foi "Melody Road", da DENTSU RAZORFISH Tokyo. Procurem no youtube, ou no próprio site do festival, que deve ter o vídeo. Mas eu explico: para promover os pneus Dunlop, a agência criou, em parceria com a prefeitura de uma cidade japonesa, uma rodovia cheia de ranhuras, como aqueles redutores de velocidade que temos no Brasil. Mas mudando o espaço entre elas, quando o carro passa, fica uma "melodia", feita pelo barulho dos pneus passando por cima da estrada. A música é "Scarborogh Fair", da dupla Simon e Garfunkel. E o mais interessante: você só ouve a música direito se passar a 40 por hora, que é o que fecha o raciocínio, vendendo a segurança nas estradas e o respeito ao limite de velocidade - tudo "patrocinado" pela Dunlop. Perto disso, um outdoor comum ou um cartaz ficam muito, muito pequenos. Outra ação outdoor muito bacana foi para a HBO, divulgando seu novo seriado, cujo tema são os segredos que todo mundo guarda. Eles instalaram vários painéis com fotos de pessoas andando pelas ruas, com buraquinhos para o público plugar seus headphones e escutar os segredos e pensamentos que os personagens do seriado estariam tendo. Sensacional.

Conclusões: notamos aqui que a estratégia da ideia tem ficado tão o mais importante que a própria ideia. No media lions, por exemplo, isso já é muito claro. No outdoor, ficou mais claro ainda. Quanto mais você pensar em algo que transcenda o meio - seja ele impresso, eletrônico ou internético - maior é a chance de ganhar leão. A prova mais irrefutável disso foram as duas campanhas da Leo Burnett de Portugal, o Museu Efêmero do Rum Pampero (entrem no site canneslions que tem lá) e a Hope Store da Cruz Vermelha. São ideias tão fortes e tão poderosas que não dá pra classificar direito - é outdoor, mas também é mídia, também é relações públicas, também é promoção. Tanto é que ganharam 9 leões, as duas. Cada um em uma categoria diferente.

Bom, as primeiras impressões são essas. Até o fim da semana falo sobre filme e cyber. Abraços.


PS: Desnecessário comentar sobre a campanha "Best Job In The World", que papou tudo até agora também. Como classificar uma iniciativa que começou com anúncios na seção de empregos e terminou no Jornal Nacional, sendo lida pelo William Bonner? E que na verdade era para incentivar o turismo em uma região da Austrália? Genial.

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