É até curioso ver como a crise mundial realmente afetou (ou parece ter afetado, até agora) muito mais os países de primeiro mundo do que nós. Vimos vários, vários filmes que ou falam diretamente sobre a crise, ou indiretamente, ou possuem um "clima". Como exemplo, posso citar uma campanha da Toyota (acho que australiana), que não deve pegar nem shortlist, mas tem uma abordagem muito corajosa. Os comerciais falam que um Toyota é o carro a ser escolhido por quem tem a consciência de não andar muito de carro. Seja para proteger o meio ambiente, seja para economizar em um tempo de crise. E a gente sente essa temperatura em várias outras campanhas.
E todo mundo está enlouquecido com as tais redes sociais. Facebook, MySpace, Twitter (não, orkut não - essa é quase que totalmente brasileira). Dizem que a publicidade está morrendo. Que os filmes de TV e anúncios de revista não vão mais existir. Que o UGC (User Generated Content) vai tomar conta do mundo. Por isso foi ilustrativo e esclarecedor assistir a três seminários: o da Naked Communications, com os diretores mundiais de marketing de Coca-Cola, Google e Nike. Todos eles teceram loas às redes sociais e à internet, mas disseram que é mais uma ferramenta a ser utilizada - uma ferramente poderosíssima, importantíssima, e que será cada vez mais. Mas todos eles foram categóricos em dizer que o consumidor nunca vai deixar de valorizar uma boa história. Seja ela contada pela própria marca, seja ela contada por eles próprios. Seguindo o mesmo caminho, o seminário da R/GA e HP (Hewlett Packard), falando exatamente sobre o poder das redes sociais que não pode ser ignorado hoje em dia. O raciocínio é: com cada vez menos tempo para se dedicar à informação, e cada vez menos confiança nas fontes "oficiais", as pessoas procuram saber sobre produtos, marcas e serviços com quem é de confiança e está mais próximo: amigos, família, colegas de trabalho. E isso é uma realidade que não pode ser ignorada. Comunidades podem adorar ou detestar uma marca. O poder e o controle sobre a comunicação nunca esteve tão escorregadio, e saindo tanto das mãos das empresas. Ele está passando para o consumidor.
Prova maior disso foi a maravilhosa palestra de David Plouffe, que foi o coordenador da campanha do Barack Obama. Para ele, as redes sociais foram uma das ferramentas mais importantes para eleger Obama e fazer com que ele saísse de um virtual desconhecimento até ser eleito presidente dos EUA. Mas ele deixou bem claro que a estratégia só foi bem sucedida porque no fundo no fundo, o que funciona é o marketing um a um. O Facebook, o MySpace e o BarackObama.com só ajudaram a agregar as pessoas em um objetivo comum: doações e voluntários. Foi a campanha que mudou o comportamento histórico de votação no país. Nunca antes tantos jovens, tantos latinos e tantos negros se mobilizaram para se registrar e votar (lá o voto não é obrigatório). E o que fez a diferença, segundo ele, foram exatamente os voluntários. As pessoas que doaram dos seus bolsos (500 milhões de dólares arrecadados por mais de 400 mil pessoas) e fizeram um "financiamento formiguinha" da campanha. Todos os doadores recebiam emails diários e links com atualizações nos sites de relacionamento. Quem doava quantias maiores, recebia ligações de agradecimento do próprio David Plouffe, ou até mesmo do Obama. Segundo ele, o que fez a diferença na eleição (51 a 49%!!!) foi o voluntário que saía de casa e ia batendo na casa dos vizinhos, com o discurso alinhado com as informações dos sites, para convencê-los a escolher o melhor candidato, com os melhores argumentos. É uma técnica nova que investe na forma de comunicação mais antiga: o boca-a-boca. E como bem disse ele, em quem você mais confia? Num comercial de TV ou numa pessoa que cresceu e conviveu com você, no mesmo bairro, por toda a vida? Claro que os comerciais foram muito importantes (e ele frisou isso muitas vezes), mas foi a soma de todos os recursos utilizados - TV, mídia exterior, vídeos, internet, redes sociais - que levou a campanha à vitória.
Por último, a apresentação dos novos diretores da Saatchi & Saatchi trouxe filmes sensacionais. Poucos deles feitos para a TV e o cinema, a maioria fazendo sucesso pela internet. Agora, existe um canal no youtube para vê-los, onde você pode acessar todos os diretores já selecionados pelo New Director's Showcase, desde que começou, há 19 anos: www.youtube.com/nds
Assistam que vale a pena.
Dan Zecchinelli
Diretor de Criação da Filadélfia
4 comentários:
Esse filme da La Comunidad que levou prata é uma das coisas mais engraçadas que eu já vi: http://www.facebook.com/ext/share.php?sid=208977315544&h=CXkCr&u=-j3k3&ref=mf
Boa a dica do New Directors' Showcase, tem muita coisa legal lá.
Muito bom este artigo. Principalmente porque fala sobre confiança. Este ponto chave para conquistar as pessoas. Seja na vida, na propaganda ou nas redes sociais.
Muito bom.
E o GP de press? Meio paia, não? Terra Viagens e "Até onde vai a sua criatividade" eram melhores.
E a história de que o Whopper sacrifice perdeu por ser politicamente incorreto, procede?
Solta mais um post com outras impressões aí Dan.
Abraço.
Dan,obrigado! Abraço, Ahmed
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